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A origem do Povos Baniwa

Segundo os conhecedores e sábios indígenas do nosso povo, Baniwa e Koripako significam “os povos que vivem com sua própria cultura”. Quer dizer, apesar de terem sido influenciados pelos hábitos oriundos da população ocidental, continuam praticando as suas culturas originárias. Devido à colonização, acabaram perdendo alguns conhecimentos pertinentes, elas mudaram aos poucos com inserção de novas ideologias e costumes de fora, mas a maior parte desses conhecimentos continuam vivos. Atualmente, algumasaldeias que descartaram essas influências ou resistem a ela, ainda seguem seus costumes e cultura. Por exemplo, as comunidades que não receberam o evangelismo continuampraticando seus costumes, fazendo festas em finais de semanas, onde produzem as bebidas tradicionais, os rituais de cura e de passagens da adolescência para vida adulta em que essas pessoas apanham e comem pimentas ardidas sem poder reclamar e nem chorar. Há aquelas que aceitaram o evangelismo e deixaram de seguir tais costumes, pois dizem que é pecado. Quando chegaram as pessoas que levaram o evangelho, eles foram obrigados a parar de praticar festas, rituais e até mesmo as bebidas tradicionais. E assim foram deixando, cada vez mais, o que eram seus costumes e vivências.


A origem de sua organização social está nos seres dos universos que não morrem, os “heekoaponai” - em idiomas Baniwa; entendidos como conquistadores para a humanidade. Os Ñapirikoli, Dzooli e Eeri são os atores que principiaram este sistema. O povo Baniwa é neto desses seres, Dzooli-Dakeenai, Eeri-Dakeenai. O principal deles, em destaque na cultura do povo, é o poderoso guerreiro Ñapirikoli. Tudo o que se vê hoje na história de Baniwa é legado de ÑAPIRIKOLI – o Criador do universo.

Esses seres têm uma história conjunta de criação do povo. Os Velhos Baniwa contam que Ñapirikoli e seus parceiros de trabalho - Dzooli e Eeri - foram os três principais na história da humanidade e universo para o Povo Baniwa. Considerados como Deuses, exerciam um único trabalho juntos. Esses três refletiam acerca do conhecimento sobre as gerações futuras, produziram pensamentos a respeito de como a população de hoje viveria neste mundo que ocupamos. Não foi fácil para esses três conquistadores, porque enfrentavam vários inimigos, tais como os Enowheri, Omaiwhe, Olimaali e outros. Esses inimigos eram os que andavam examinando a geração atual (Walimanai), pois queriam impedir que a humanidade de hoje existisse. Mas, quando Ñapirikoli conseguiu vencer os seus inimigos, começou a criar coisas boas para a humanidade, porque a conquista que andavam fazendo era para o bem de todos os Walimanai (as gentes da atualidade) - agiam sempre pensando no futuro das gerações. Então, os trabalhos que eles desempenharam foram muito relevantes para o povo. E suas formas se davam através de guerras, vinganças, disputa-se, principalmente, de xamanismo; os três colaboraram coletivamente. Portanto, Ñapirikoli e seus aliadosforam fundamentais para a existência dos Walimanai - foram os que deramorigem ao nosso povo.

Os Povos Baniwa fazem parte dos vinte e dois povos indígenas existentes próximos à fronteira do Brasil com a Colômbia e Venezuela; vivem na região do Alto Rio Negro, Rio Içana e seus Afluentes como Cuyari, Ayari, Rio Cubate; além de alguns parentes que moram nas zonas urbanas em São Gabriel da Cachoeira, Barcelos, Santa Isabel e Manaus. Os Povos Koripako que moram em Alto Rio Içana e Colômbia falam dialeto da Língua Baniwa (Robin Wright,Geraldo Andrello, 2002). Teoricamente, esses povos são o maior da Região Noroeste, uma vez que estão espalhados por vários lugares do território onde vivem. Com relação à recepção e modo de se relacionar com outros povos, são considerados povos do bem, cheios de energia, alegres, felizes e, acima de tudo, pessoas que adoram receber visitas de cidadãos que pertencem a lugares de fora de sua região ou comunidade; ainda mais quando são pessoas brancas. Quando isso ocorre, eles têm a oportunidade de tirar suas dúvidas e satisfazer suas curiosidades sobre tudo que imaginam deste outro mundo.

Organização Social dentro da Comunidade

Antigamente, a organização social da população nas suas aldeias era liderada pelos mais velhos e conhecedores, principalmente, as pessoas que fundaram determinado local. O lema mais usado pelo povo naquela época era: “somos capazes de viver no meio do mato, construir nossos lares sem precisarmos da ajuda”, “ somos fortes, somos filhos, netos, bisnetos da nossa mãe terra, que nos protege, nos guia e nos dá a sabedoria para que possamos ter coragem de sobreviver e enfrentar tudo que os espíritos maus tentam nos alcançar e nos derrubar”.

E com o passar do tempo, tal organização social vem mudando. Cada vez mais, a comunidade é organizada conforme a decisão da população, onde fazem questão de indicar duas ou três pessoas da sua região para assumir a liderança. Muitas vezes esse fato ocorre de forma tradicional por todos os indicados, que são obrigados a se manifestar se aceitam ou não, para que a votação seja realizada. Feito isso, os eleitos como capitãesou caciques terão direito de liderar o tempo que a população da comunidade permitir e quiser; trabalhando em conjunto, realizando todas as atividades e cumprindo seus papéis repassados pelos líderes anteriores.


Breve história do Povo Baniwa antes do contato com o branco


Pode-se dizer que há muitos anos, o Povo Baniwa era totalmente contrário à chegada do colonialismo; tentaram se posicionar e não foram ouvidos. Assim, foram ficando diferentes e muitos aceitaram a cultura imposta. Enquanto estavam isolados, a convivência, sobrevivência e o mundo desses seres eram muito tranquilos: tinham liberdade de viver da facilidade que eles mesmos criavam para si, trabalhando sem ninguém para dominá-los nem incomodá-los. Na época, esses povos não se importavam com as roupas, calçados, sabão, sabonete, colheres, pratos; ou equipamentos como celulares, televisões, motores, voadeiras, telhasde alumínio, cimentos,redes de deitar,colchão; e muito menos em comprar as coisas industrializadas, tais como: biscoitos, leite, café, suco, feijão,arroz, macarrão e todos os alimentos outros,considerados venenosos para seres humanos.

Suas casas eram feitas de folhas de palmeiras, amarradas com o cipó (chamado wambé) e a parede feita de terra. Ainda hoje, algumas casas são feitas desta forma. A comida era plantada e retirada da natureza; hoje, a maioria das pessoas compra seus alimentos, embora algumas continuem as tradições de plantios, colheitas e coletas das plantas nativas.

Em relação às caçadas, havia aqueles que se preparavam para essa prática, se privando de determinados alimentos, escolhendo outros específicos que os habilitassem para isso e os protegia para sua missão de caça. Quando caçavam, perseguiam os animais até sua toca, obtendo uma relação com eles, colocando comidas, se tornando próximos dos bichos, até que os pudessem pegar. Há pássaros que são guiadores que alertam antes mesmo de acontecer algo ruim mais na frente ou no exato momento. O caçador precisa saber ouvir os gritos dos pássaros que avisam sobre o perigo. Mas vale lembrar que nem todos os indígenas tinham esse poder de se aproximar dos animais como humanos, conversando entre si. As pessoas que tiveram o privilégio de receber esse tipo de sabedoria e comportamento eram escolhidos pelo criador do universo (Ñapirikoli), essas mesmas pessoas acabaram tornando-se pajés e benzedores.

Naquele tempo, os povos não se acometiam de doenças graves, porém adoeciam de outros tipos, que eram executadas por pessoas da redondeza ou de outras famílias, como prática de envenenamento (na linguagem local: o venenoso). Mas, mesmo assim, eles conseguiam se curar com os medicamentos tradicionais e através de rezas que os benzedores ofereciam. Depois da chegada e contato com os brancos, a vida dos indígenas mudou radicalmente. Pois, a partir disso, começaram a ficar doentes de diabetes, malária, dengue; por comprarem várias coisas, principalmente comidas que são prejudiciais à saúde; iniciaram o acesso aos motores de diesel e gasolina, causando danos tanto para vida dos peixes, quanto para os rios de onde bebiam e, ainda, bebem sua água. Outro ponto é o uso de espingarda para caça, instrumento assustador aos animais silvestres e inclusive às pessoas. Mudou totalmente a vida dos povos!

As festas duravam semanas ou um mês, onde eles convidavam outras pessoas de etnias diferentes a participarem, interagirem, trazendo seus pertences e comidas de suas aldeias, cumprindo as regras de determinado local e festa. Esse tipo de evento era muito importante, especialmente em momentos em que a mulher ganhasse filhos e filhas e nas passagens da adolescência para a vida adulta, além de casamentos. Também nesse tempo, havia casamento arranjado; por exemplo, os pais da menina e menino conversavam entre si. O pai do homem procurava o pai da mulher para combinarem o casamento, sem ambos saberem ou se conhecerem. Esse fato não podia ser impedido, pois era, e ainda é, da cultura desse povo. Existe uma frase que eles sempre usam como desculpas para que os filhos se aceitem: “se o casal não aceitar viver junto, haverá maior conflito entre os pais”, que chegariam até se matar entre eles e o casal nunca veria um ao outro. Houve casos em que chegaram a brigar por tal situação.


A luta do Povo Baniwa por seus direitos


Ao longo dos anos, a população indígena vem lutando por seus direitos e defendendo as riquezas da natureza - fazem reivindicações para que tenham direito a tudo quanto qualquer ser humano na terra. É uma tarefa imensamente dura, visto que sempre correm riscos quando vão à luta nos encontros e movimentos realizados todos os anos, desde a colonização até hoje.

Geralmente, os encontros acontecem nas comunidades maiores, onde há possibilidade de receber muitas pessoas de comunidades vizinhas ou até mesmo de outras regiões. Tais encontros têm como objetivo criar propostas e fazer levantamento para melhorias nas organizações locais e levantamentos de propostas para apresentarem nos eventos que se realizam nas cidades. Esses eventos chamados de movimentos, onde os representantes indígenas indicados vão apresentar para os chefes (como prefeitos, governadores e secretários de educação e saúde) as propostas que foram feitas e organizadas coletivamente com as populações e comunidades daquela região.

Historicamente, desde 1500, os povos são massacrados, escravizados e julgados por pessoas que querem destruir e invadir seus territórios. Pessoas que não fazem a menor ideia de como a natureza é - ela concebe todas as coisas, comida, ar, sol, frio e a vida em geral - e que, sem ela, os humanos não sobreviveriam. A natureza é a base principal na vida de cada ser existente.

As lutas para implantação de escolas nas regiões Baniwa tiveram como maior objetivo gerar o acesso aos estudos e conhecimentos de não indígenas, pois os indígenas também podem ter o direito de, um dia, se tornar médico/a, enfermeiro/a, professor/a; e se formar nas diversas áreas, podendo assim ajudar seu povo. Há também, a luta para colocação de polos-base das equipes de saúde em locais mais próximos ou até mesmo na aldeia, para ganhar espaço e ter acesso aos remédios dos brancos. Porque os tipos de doenças surgem de outras vidas e está distante do conhecimento dos povos originários – para as doenças que os Yalanawinai (brancos) levaram não há tratamento específico nas aldeias e nem chegam remédios das cidades para esse povo.

Atualmente, existem vários estudantes Baniwa em todos os cantos do Brasil, se graduando e se especializando em diferentes áreas, para que um dia possam voltar, ajudar e continuar lutando, a fim de que novas gerações sejam capazes de combater não só nessa luta, mas para que tenham a liberdade e seus direitos em tudo que o mundo oferece e que Ñapirikoli (criador do universo) propôs para cada um de seus netos. Educação dentro da comunidade Várias pessoas afirmam que a educação indígena não é valorizada como a educação não indígena, e não estão erradas. Mas o que a maioria não sabe é que o ensino para os povos indígenas é totalmente diferente do que observamos entre os brancos- há várias maneiras de ensinar. Por um lado, há um enorme preconceito sobre a educaçãodos indígenas, mas o mais valioso no modo de ensinar dos povos é compreender que são os que cuidam uns dos outros, da terra mãe e da natureza onde vivemos.

Nas aldeias, os filhos são ensinados pelos próprios pais desde criança os valores e as práticas do seu povo. Entre 8 e 15 anos, começam a aprender as responsabilidades comunitárias: a menina a lavar roupas, varrer a casa, fazer comida, limpar quintal, torrar mandioca e beiju, ir para a roça; já o menino, aprende a pescar desde muito cedo, com 5 anos o pai o ensina. Essa é a fase mais emocionante na vida de um homem indígena e, conforme vai crescendo, os trabalhos vão aumentando, ficando mais pesados, tal como derrubar as árvores para realizar roça com a mãe, ajudar na construção de casa - aprendem a roçar, pescar e caçar. Essas tarefas são muito importantes e, ao mesmo tempo, difíceis para os pais, porque eles têm medo que seus filhos se tornem fracos quando adultos ou ao se casar. Precisam ter a força do conhecimento para fazer essas coisas a fim de manter a vida da família, da comunidade e a cultura do povo.

Outra forma de receberem conhecimentos e ensinamentos é por meio de rituais preparados pelo ancião da aldeia, onde transcorre a maior festa com as pessoas que estão passando da fase de adolescência para a vida adulta.

Importante salientar que, há alguns anos, as escolas indígenas foram implantadas nas comunidades de cada região. Esse foi um caso de grande vitória e conquista do povo indígena; pois assim as crianças passaram a estudar dentro da escola, onde há outra pessoa que os ensinam: o professor e a professora. Lembrando que esses docentes são os próprios Baniwa, a diferença é que esses ensinamentos acontecem longe dos pais. Além disso, eles aprendem a escrever na sua língua, ler e até somar no papel. E, hoje, a educação está avançando e os indígenas procuram estudar sobre outras coisas e conhecer um novo mundo e nova cultura, para melhor defender o seu mundo e a sua cultura.


A importância e valorização da cultura e crenças

Nem todos os seres humanos conhecem sua própria cultura e crenças, tampouco a importância de a valorizar. Isso acontece pois muitas vezes acabam sendo mal-encaradas por outras pessoas, falando e proferindo que são inúteis para seguir o que foi criado pelos ancestrais, que não estão mais vivos. Esse assunto é o que a maioria comenta nos últimostempos, sendo assim,diminui o reconhecimento sobre as basesde origem do seu povo.

Na Cultura Baniwa há muitas coisas que foram esquecidas, mas existem diversas outras que ainda são praticadas e seguidas, com todo respeito. O povo procura sempre seguir e recordá-las. Ressaltando os desmemoriados, isso ocorreu depois que tiveram contato com as pessoas de outros mundos - os yalanawinai (brancos).

A valorização da cultura e crenças é extremamente essencial para povos originários Baniwa, não somente eles, mas para todos, que de alguma forma surgiram de determinado povo.

Pode-se dizer que as crenças mais valorizadas e respeitadas, que o povo até têm medo de fazer, são: se a mulher olhar dentro do tipiti, o marido se tornará guloso; se o homem comer sentado na rede, será perseguido pela onça e na hora algum cipó impedirá de continuar correndo e cairá no chão; dormir até tarde envelhece muito rápido; demorar demais para fazer as coisas, principalmente para as mulheres, tipo lavar louça, varrer ou acumular qualquer coisa, o parto e a contração demorarão dias; se acordar falando de madrugada, seu filho/a nascerá com boca maior; gritar ao ver minhoca, dificilmente o peixe aproximará do anzol; varrer a casa à noite, está chamando a morte para sua mãe; dormir com cabelo não trançado, seu cabelo não cresce; deixar cair algum pedacinho de abacate no seu corpo, nascerá verruga; comer comida fria, virá vento forte; comer a cabeça de tatu, a chuva cairá em você mesmo; comer cérebro de paca, nasce tumores no seus olhos e ao mesmo tempo fica com a mente lenta; comer sentada em cima da vara quando está espremendo o líquido da massa de mandioca, corre risco de cagar na hora de parir; e tem diversas outras crenças que eles acreditam, respeitam e seguem.

As práticas culturais mais usadas pelos povos é tomar caribé cedo em coletivo;nos domingos, almoço geral, onde há participação de crianças e adultos; trabalho comunitário, principalmente quando se trata de construir uma casa maior, sendo em cada casa ou família moram 5 ou até 10 pessoas, dependendo das quantidades dos filhos, já os velhos (avôs e avós), moram nas suas própriascasinhas que seus filhos constroem, porém, tem as que preferemficar juntos, ou morando na mesma casa com seu filhos e netos. Quanto filho/a solteira/o, eles não saem da casa dos pais enquantonão casarem, somentedepois do casamentoos filhos são obrigados a terem suas próprias casas para morar e roçar ao redor de suas comunidades. Realizar eventos religiosos, encontros para tratar sobre algum movimentoe seus direitos como lutadorese indígenas; viajar e visitaroutras comunidades vizinhas;conceber armadilhas - que se chama cacuri - para pegar peixe para o consumo; fabricar farinha, beiju todas as semanas; cada família faz suas roças, suas casas e canoas, lembrando que as canoas são divididas para cada atividade, a menor serve pra pescar, média adequa-se a ir à roça e a maior é usada para viagem longa (viajar para cidade ou ir na outra comunidade com várias pessoas);realizar casamento nos encontros; entre outras coisas mais.

E há os costumes de ir para roça todos os dias, pescar, acordar cedo para tomar caribé e conversar com seus próximos, tomar banho sempre no rio. Ao anoitecereles param de trabalhar; se alimentam qualquerhora, estando com fome - mas não tem costume de levar comida no trabalho; esse é o famoso hábito que os indígenas (tanto mulher quanto homem) estabelecem. Eles partilham comida com vizinhos; praticam jogos de futebol, voleibol e futsal nos domingos e durante a semana e assim por diante.


Mudança cultural (como surgiu e por que começou)


Após a chegada do homem branco, tudo mudou: os seres humanos, cultura, crençase a forma de acreditar nos outros seresviventes na terra. Mas, apesar de surgir muitas novas regras, muitas pessoas não deixaram de seguir e acreditar no que sempre vem seguindo desde então.

O contato com as tecnologias foi uma das “piores” coisas que ocorreu na cultura do povo baniwa, em que passaram usá-las não por necessidade e sim porque foram obrigados e ao mesmo tempo iludidos de que suas vida poderiam mudar para melhor, mas não é bem assim, acabaram com as cultura e os bens saudáveis que eram feitos por eles. Alguns pararam de fabricar canoagem, e no lugar acabam comprando um “bote” que serviria para ser utilizado para viajar. Quanto ao remo, compraram motor ou rabetas.Também por causa disso, passarama comprar telhas de alumínio para fazer suas casas, motosserra para cortar árvores e fazer tábuas para paredes das casas e entre outros. Através de usos dessa tecnologia os nossos rios, florestas e todos seres vivos existentes na região acabam sendo contaminados. Principalmente por usar combustível, óleo diesel e gasolina para as máquinas funcionarem. Os peixes e outros animais das florestas estão diminuindo cada vez mais, as pessoas estão tendo dificuldades de encontrar peixes de forma fácil, e têm que ir muito longe de suas localidades ou aldeias.

As gerações atuais começaram a ter problemas com a saúde, pegando doenças de todos os tipos, como: gripe, câncer, malária, falta de ar, dores no corpo, etc, por motivo dessa contaminação que vem aparecendo ou acontecendo na região, não só lá, mas também no mundo inteiro. Vale ressaltar que a maioria dos povos indígenas da etnia baniwa começaram morrer por causa das doenças que não são da origem local, mas as que foram chegando de uma maneiramuito triste nas comunidades ou aldeias. A falta de conhecimento sobre as doenças levou os povos tradicionais à redução, perdendo as lideranças, conhecedores, pajés. E alguns conhecimentos foram morrendo junto, porque não houve tempo suficiente para que fossem repassados aos seus filhos, netos ou primos. Essas perdas trouxerammuitos problemas em relação à cultura, de viver dentro de suas comunidades quanto à organização social.


Ainda plantamos a nossa própria comida?


As comidas são as principais fontes para a sobrevivência de qualquer ser humano no mundo. Para os povos baniwa, não é diferente, as plantações fazem parte de cultura, como a mandioca, que é uma das comidas principais, valorizada para esse povo, pois com ela fazem farinha, beiju, farinha de tapioca, tucupi (que serve como tempero para comidas, inclusive a quinhapira (peixe cozido com pimenta). A farinha serve para fazer mingau (como café da manhã), fazer xibe; beiju é utilizadotambém para comer peixe e fazer caribé.Essas são as importâncias que a mandioca traz para o povo e a relação que tem com eles. Sem a mandioca, as pessoas passam fome. Além de mandioca, ainda existem outras plantações, como: abacaxi, mamão, abóbora, cana-de-açúcar, abió, biribá, ingá, batata doce, coco, açaí e outros. Apesar das comidas saudáveis ou plantadas por eles, começaram também a consumir as comidas industrializadas. Tudo começou depois do contatocom a cultura branca. Foi aumentando e até que alguns começarama consumi-los mais do que suas própriascomidas. Inclusive, o café que viciou a maioria, além de biscoitos, sal, entre outros. Pode-se dizer que por meio disso o lixo acabou sendo descartado de forma inadequada, as embalagens, plásticos, papéis, ferros, muitas vezes jogados nos rios, no solo e na floresta, colocando a própria vida em risco, os peixes quase entrando em extinção por causa desse novo mundo, e os afastando para outros lugares.


Porém, nem sempre os indivíduos de determinada localidade realizam essas atividades inadequadas, a maioria são de outros que vem como visitas ou as que estão de passagem.


Mudanças Climáticas


Para os povos indígenas, as mudanças climáticas ainda não são claramente definidas. Segundo a história, o povo verdadeiro foi metido no mundo por seu criador, juntamente com os outros seres vivos, como as árvores, rios, montanhas e outros, que são considerados essenciais para conviverem em harmonia na terra. Vale lembrar que o homem branco também foi criado da mesma maneira, no mesmo tempo, para conviver com a natureza. Porém, aolongo do tempo, acabou se afastando do grupo e assim começou a criar novos comportamentos diferentes, fazendo modificações nas paisagens, e ao mesmo tempo, mudando a maneira de viver no mundo, diferente do indígena,que ainda continuarespeitando, vivendo, convivendo em harmonia com outros seres vivos. Os grupos que se distanciaram se multiplicaram e multiplicam seu povo, alguns retiram os minérios de dentro da terra e vão transformando em máquinas poderosas, que acaba tirandoou arrancando a floresta e construindo cidades, que acaba massacrando os rios atravésde seus detritos, para fabricação de energia, que suja o ar com venenos e que transforma o alimento em mercadoria. Podemosassim afirmar que esse grupoestá presente em todo o território, seguindo suas próprias crenças e modo de vida. Também o maior problemadessa sociedade é o fato de prejudicarem gravemente a Terra, e também os seres vivos que existem. Já os povos tradicionais ainda continuam vivendo, respeitandonormalmente o espírito da floresta ou seu território, tentando preservar e fazendo tudo para impedir que “a mãe acorde”.


Pode-se dizer que, nas grandes cidades,as pessoas que se consideram modernas, algumas mais receptivas ou sensíveis, conseguem enxergar os perigos e as modificações que podem ajudar e transformar a vida em nosso planeta. Vale lembrar que a maioria das pessoas e dos governantes está ciente disso, o mal que vem prejudicando o planeta. Porém, mesmo assim, não mudam suas atitudes e seu consumo para solucionar esse problema. Sabendoque todos estão sofrendo consequências desses erros cometidos, colocando as novas gerações em perigo e trazendo cada vez grandesmotivos para vivermosem desigualdade e ameaçados. Por muito tempo, a sabedoriados povos tradicionais vem sustentando a vida dos seres presentes no seu território, trazendo uma vida feliz e saudável nas florestas, montanhas, praias, etc. Povos que foram e continuam sendo considerados como “pessoas atrasadas” e primitivos, mas na verdade são os principais que guardam e protegem o que é mais rico e sagrado: o poder da criação. Há indígenas que se iludiram com as novidades do novo mundo do branco, por exemplo, achandoque o dinheiro é uma solução para sobrevivência e viver bem no mundo. Assim seguiram os caminhos forado contexto de sua realidade, passando a provocar um grande problema, trocando seu próprio território e biodiversidade pelo dinheiro, como se fosse uma mercadoria. Por que as aldeias precisam se unir para combater as mudanças climáticas?

  • A mesma ação humana que destrói também pode resolvero problema.

  • É dever de todos se preocupar com o aquecimento global, podendo evitar esse fator plantando as árvores, conscientizando as pessoas da importância de proteger as florestas, evitando queimadas, diminuindo a produção e descartes de lixos inadequados.

  • As fábricas poderiam usar filtros para que seu gás possa ir de uma forma menos prejudicial à atmosfera.

  • Fazer reciclagem de forma inovadora. Por exemplo, a produção de tijolo e cerâmicas é uma das grandes responsáveis pela poluição da atmosfera na queima de lenha e carvão, e também grande responsável pelo desmatamento na retirada de terra como matéria-prima, sendo que o tijolo pode ser substituído pelo isopor reaproveitado.


Quero terminar este texto citando o meu avô Cláudio: “Quando estamos bravos, podemos fazer tantas coisas erradas, destruir, quebrar os objetos, mas sempre nos arrependemos depois, voltamos arrumar e procurarou comprar novas para colocar no lugar. Então, do mesmo modo, podemos consertar os nossos erros,desrespeitos e desvalorização com a nossa natureza, nossos peixes, animais e até mesmo com nossa própria vida. Onde vivemos e pisamos, tem o dono, ‘estamos apenas vivendo de favor'. Nós não temos nosso próprio planeta, não criamos as árvores sozinhos, nem a água, vivemos com outros seres vivos ao nossoredor, comemos e respiramos ar juntos. Possuímosum pai inexplicável, com bastantepaciência e respeitocom seus filhos. Precisamos colaborar com ele! Assim, ele pode nos ajudar a viver melhor, sem as doenças (vírus). Nós, humanos, somos mal agradecidos. Em vez de agradecermos por tudo que temos e por vivermosnos lugares assim, cheios de coisas boas, lindos, sempre provocamos a nossamãe (pai) Terra. Em um momento, ele perderá a paciência. Se não agirmos o mais rápido possível, teremos pouco tempo, por causa de nossas atitudes e desrespeito.”


Sobre a autora: Eliane Claudio Guilherme


Nome indígena Omawalieni, da etnia baniwa, pertenço a comunidade de Tunuí-Cachoeira-Medio Rio Içana do Alto Rio Negro, Estado do Amazonas. Graduandaem Ciências Biológicas pela Universidade Federal de São Carlos-UFSCar e Gestão Hospitalar-Unicesumar, bolsista no programa PET - Saberes Indígenas.




Eliane Claudio Guilherme participou da 5ª edição do Curso YCL no primeiro semestre de 2021 como bolsista. As referências e opiniões expressas no artigo são de responsabilidade da autora.

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