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Beleza e Permanência: A arte como resgate de reflexões sobre a natureza aos olhos de Mila Zemliakova

Traços, formas, sons, cheiros, cores...Podemos pensar em várias situações, nas quais, a natureza se mistura com a arte, aliás, o meio natural por si só molda sozinho muitas coisas que consideramos esteticamente apreciáveis, desde a paisagem até os inúmeros formatos e “desenhos” do mundo animal e vegetal. Tudo é simetricamente encaixado em um fluxo contínuo da evolução das espécies.


Como é exemplificado pela pesquisadora Barja, o meio natural parte de uma espontânea presentificação ambiental e ao seu lado temos a paisagem, que admite uma lógica espacial, pensada em um formato que dá margem para a construção de um lugar idealizado pelo ser humano. Dentro do segundo aspecto podemos reconhecer diversos modos que as pessoas encontraram para transformar o ambiente que habitavam, partindo de premissas criativas e culturais.


Durante a história, o ambiente urbano com o seu capitalismo agressivo acabou por, indiretamente, sufocar o cultivo da visão imaginativa do ser humano e consequentemente das coisas que lhe rodeiam. A rapidez da vida, estabelecida pelas duas Revoluções Industriais, não ofereceu espaço para a apreciação do diferente, tudo girava em torno da manutenção do necessário para a sobrevivência. Contudo, sempre tivemos meios de resistência para o progresso, a tecnologia, e toda a construção laboral decorrente disso, em recortes recentes e até antigos, há muitos relatos de seres humanos que se preocuparam em expor diferentes formas de arte para a sociedade.


Não de forma curiosa, o meio artístico se torna um contraponto de reflexão ao rápido avanço social, e conseguimos observar essas questões em intervenções feitas nos espaços urbanos. Como pontuam as estudiosas Bocca e Souza, com a industrialização várias obras criadas por fotógrafos, artesãos, escultores, entre outros, se utilizaram da fusão de materiais recicláveis, industrializados e naturais, para introduzir as pessoas que passavam por eles em um círculo de reaproximação com o ambiente natural e com aquilo que estava passando despercebido.


As produções realizadas pelos profissionais que buscam esse alerta para a reconexão das pessoas com o ambiente e seus objetos, tem um significado que liga diferentes questões da realidade à uma mensagem, que pode ser de conscientização, de choque, de reflexão etc. Como analisamos em um texto sobre a arte dentro de uma perspectiva ecológica, escrito por Simão, o estilo contemporâneo de produção busca reler a dinâmica da atualidade e sua instabilidade, assim, ele levanta questões, problemas, interrogações tanto para o lado coletivo quanto para o individual.


As intervenções artísticas carregam consigo o potencial de gerar reações diretas ou indiretas daqueles que as apreciam, elas possuem a capacidade de tornar a obra ligada ao meio onde foi colocada, absorvendo aspectos culturais, históricos e sociopolíticos. De maneira abrangente, o ambiente escolhido pelo artista pode estar em um movimentado centro urbano ou em um deserto, porque o que importa é o sentido da intervenção.


Quando olhamos para o mundo ao nosso redor e suas circunstâncias atuais, nas quais, o clima se tornou um fator indispensável no debate sobre o presente e o futuro, não há como as obras artísticas não tocarem nessa temática, dado que elas puxam o olhar humano para o que não está no seu campo de visão. De fato, diversos aspectos são ignorados quando paramos para entender o que está levando às mudanças climáticas.


As intervenções que pretendem levantar o debate sobre o impacto do ser humano na natureza, também buscam alternativas inusitadas para criar uma ponte de reflexão sobre a temática, o espaço urbano, natural e virtual são misturados entre objetos e formatos, que conduzem aquele que enxerga à um apanhado de emoções e sensações. Em um certo ponto o espectador contextualiza e interfere no sentido da obra, a partir das suas construções pessoais e maneiras de ver a realidade.


A artista Mila Zemliakova da Bielorrússia, é um expoente dessa nova maneira de vivenciar e traduzir o mundo contemporâneo, por meio da Soft Sculpture (Um tipo de escultura macia, feita com tecido, espuma de borracha, plástico, fibras, materiais naturais, que formam objetos não rígidos e flexíveis) ela aproxima as pessoas para uma contemplação que envolve a natureza, a preservação desta e sua produção. Após um contato inicial ela se prontificou a dar uma entrevista, com a intenção de colaborar com esse artigo para a rede do Youth Climate Leaders, além de dar um maior entendimento do processo de intervenção artística em diferentes espaços.


1. Conte-me um pouco sobre você, sua história, até chegar ao seu trabalho atual.

Olá Cainã, nasci, cresci e moro na cidade de Gomel, Bielorrússia. Meus pais nasceram e moram aqui, assim como muitas gerações de meus ancestrais. Possuo ensino médio completo, especialização em serviço social, psicologia e sociologia. Há algum tempo trabalho em uma instituição estadual, prestando assistência social e psicológica às pessoas. Depois, me dedico a minha família e a minha amada filha. Até que em um belo momento cheguei ao que estou fazendo agora. (Tradução)


2. Sempre soube que iria trabalhar na área de arte?

Oh não, eu absolutamente não sabia sobre isso. Simplesmente, em um belo momento, aos 33 anos, de repente percebi o que realmente quero fazer da minha vida, o que me deixa feliz e as pessoas ao meu redor felizes. Tenho certeza de que meus genes, adormecidos há muito tempo, despertaram em mim, meu pai é um artista freelancer, ele se dedicou profissionalmente à escultura em madeira durante toda a sua vida. Tenho certeza de que é hereditariedade! (Tradução)


3. Quando olhamos para suas produções, nos sentimos impactados pela profundidade visual e dramática que seus trabalhos carregam. Existe um pensamento para produzir algo em torno de uma conexão com a natureza ou algum aspecto religioso?

Certamente todas as minhas obras estão relacionadas com a natureza, sua beleza e permanência, e também têm uma base religiosa para mim. Sou crente e tudo o que acontece ao meu redor, comigo, e o que eu crio, percebo tudo isso como acontecendo pela vontade do Senhor. Meu último trabalho, “The Hare”, que se chama "Under the Blanket", é muito multicamadas, também faz você pensar no fluxo rápido da vida, em como passamos muito tempo em um sonho, sem estar preparados para a vida eterna após a morte. (Tradução)


4. A sensibilidade que suas obras incorporam nos fazem questionar sobre a posição daquele corpo/objeto no meio da floresta e o que ele quer expressar ali. O que pretende dizer com suas produções fotográficas, há alguma questão relacionada com a preservação do meio ambiente? Como a natureza impacta suas produções?

Passo muito tempo na floresta, estar em sintonia com a natureza ajuda muito a sentir, explorar todas as estações do ano. Minha escultura “Hare - Under the Blanket" tem várias camadas e é sobre o outono, sobre a época em que a natureza congela, entra em hibernação, para reviver na primavera. É também sobre o fato de que para cada período de extinção, necessariamente começa um período de avivamento. Isso também está diretamente relacionado com a conservação da natureza, agora vivemos um momento sério em que as pessoas deveriam pensar muito sobre a preservação da flora e da fauna, sobre o renascimento das espécies e territórios ameaçados. (Tradução)


5. Já pensou em expor seu trabalho em outras partes do mundo?

Meus trabalhos são exibidos em outras partes do mundo, por exemplo, participo de projetos e exposições internacionais na Rússia, Japão, Espanha, Alemanha. Estou aberta a qualquer sugestão e participo em exposições com prazer e ficarei feliz se minhas produções forem vistas pelo maior número de pessoas possíveis. (Tradução)


6. Que pegada você pretende deixar no mundo com seu trabalho?

Eu quero ser útil para as pessoas e trazer mais amor e bondade ao mundo, isso faz muito sentido para mim. (Tradução)


7. Gostaria de deixar um recado para os brasileiros?

Gostaria de transmitir a todos os brasileiros as maiores saudações, minhas e do meu país Bielorrússia. Tenho certeza de que vocês têm pessoas maravilhosas e uma natureza incrível, e não podemos nos esquecer da gentileza e do respeito sensível uns pelos outros e pela natureza. (Tradução)


Mila Zemliakova nos mostra uma profundidade imensurável por meio de suas produções, um chamado para a reflexão e à conservação que, como ela mesmo pontua, possui diferentes camadas. Suas intervenções colocam o espectador em um contato direto com a natureza, por meio de suas produções fotográficas. Outro aspecto de grande relevância é o lado religioso que permeia sua vida real, seu imaginário e consequentemente seus trabalhos.


De forma brilhante a artista nos dá respostas que só poderiam surgir de um lugar que cultiva muita sensibilidade, merecendo destaque o seguinte trecho: “É também sobre o fato de que para cada período de extinção, necessariamente começa um período de avivamento.”. No momento atual, passamos por um momento de mudanças que estão levando à imensas catástrofes ambientais, nosso dever é mostrar para as pessoas que estão no poder que é necessário mudar urgentemente o rumo da nossa história, e para isso, devemos avivar cada vez a sociedade para essa realidade e às possibilidades verdes

ao redor dela. A arte e suas intervenções são uma das formas de conduzir esse caminho rumo a um planeta melhor que, como pondera Mila em uma de suas reflexões, deve ser permeado por gentileza e respeito.


Em nome do Brasil e da rede da Youth Climate Leaders também saúdo a artista Mila Zemliakova pela sua participação neste artigo e transmito as maiores saudações para o seu país, Bielorrússia.


ACERVO FOTOGRÁFICO DISPONIBILIZADO PELA ARTISTA PARA APRECIAÇÃO














SOBRE O AUTOR:

Cainã Marques


Jornalista e mestrando, sou conectado com o movimento de pesquisa acadêmica, nas frentes de política, relações internacionais e religião. Participante do mercado de trabalho nas áreas de marketing, social media e produção de conteúdo, criativo e inclinado a novidades, assim como, experiências enriquecedoras.





As referências e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do/a autor(a).

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