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Serviços de saúde e sustentabilidade: vamos falar mais sobre isso?


Quando uma das nossas integrantes contou que está indo para a área da saúde, a gente se perguntou como andam as discussões sobre sustentabilidade nesse ramo, principalmente em tempos de pandemia. Vem ver um pouco do que descobrimos.


Por Ana Tereza Viana e Sarah Amado Ribeiro - Hub YCL Goiás



No começo do ano de 2020 o Brasil foi assolado pela pandemia da Covid-19, doença com manifestações predominantemente respiratórias ocasionadas pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) (Souza et al., 2021). A partir deste momento, surgiu então uma gama de assuntos, mais pautados pela dúvida do que pela certeza, que tomaram conta de todos os meios de comunicação fazendo com que perguntas como: qual a origem da doença? por que ela se alastra tão facilmente? como evitar seu contágio? como tratá-la? quais são os seus grupos de risco?, fossem cada vez mais frequentes, insistentes, preocupantes.


Aos poucos, estas e outras questões passaram a ser investigadas com afinco e respondidas com maestria por especialistas que passaram a dedicar suas vidas para decifrar tamanha incógnita que é a Covid-19, levando-nos a crer que para relatar sobre a doença e sobre todos os assuntos relacionados direta ou indiretamente à ela seria preciso escrever um livro, talvez fracionado em vários volumes. Mas, por ora, aqui trataremos da Covid como motivo para a pesquisa na área de Biotecnologia que levou à produção de vacinas, essenciais para a superação gradual da crise ocasionada pela pandemia, mas que como tudo que é produzido pelo ser humano, causa impactos ao meio ambiente, sendo que um deles é a formação de resíduos sólidos de serviços de saúde.


Com o acometimento avassalador e a morte de centenas de pessoas em todo o mundo em decorrência da Covid-19, foi necessário, em tempo recorde, criar vacinas e torná-las mundialmente disponíveis de forma emergencial em 2021. O objetivo da vacinação gradual e em massa é a redução da mortalidade causada pelo vírus Sars-CoV-2 e, para isso, foram desenvolvidos diferentes tipos de vacinas através do emprego de variadas tecnologias e compostos. Os processos de produção vacinal que ocorrem em fases de estudo clínico e as tecnologias que possibilitam a produção de vacinas podem ser aprofundados no artigo “ Vacinas para COVID-19 - O Estado da Arte” de Lima et al (2021), mas prosseguimos então falando sobre a logística de vacinação contra a Covid-19 no Brasil.


Considerando a extensão do território brasileiro e o quantitativo de pessoas que residem neste território, têm-se estabelecido em âmbito de governo uma imensa logística de compra e distribuição das vacinas da Covid-19 assim como uma imensa logística para a realização da vacinação propriamente dita.


Funciona mais ou menos como uma grande orquestra que precisa estar em perfeita sintonia para o alcance do resultado final: salvar vidas! Assim, é preciso garantir os insumos da vacina, as seringas e demais materiais de uso hospitalar, os profissionais envolvidos no cadastro e realização da vacinação, o espaço onde a vacinação será realizada, as campanhas de vacinação nos meios de comunicação, dentre muitos outros aspectos. E ao pensar que cada um dos componentes da logística de vacinação e cuidados são primordiais, imagine, se por um motivo qualquer, amanhã ou depois acabassem as seringas e agulhas disponíveis no mercado...o caos estaria instalado!


Nesse contexto, cabe refletir sobre o legado que deixará uma pandemia baseada em materiais plásticos: frascos, embalagens, ampolas, seringas... . Tomemos as seringas como exemplo. De acordo com o site do Ministério da Saúde do Governo Federal (2021) até o momento de escrita deste texto, foram aplicadas nos brasileiros quase 64 milhões de doses da vacina contra a Covid-19 e distribuídas mais de 96 milhões de doses em todo o Brasil. Isso demonstra que o quantitativo somente de seringas para a imunização contra a Covid é gigantesco! Agora imagine a quantidade produzida para a aplicação de todos os tipos de vacinas existentes… Este é um raciocínio desafiador e leva-nos muitos outros sobre a produção de materiais, sejam eles hospitalares ou não.


De acordo com as normas de resíduos sólidos vigentes, as seringas são consideradas como materiais do grupo A1, por serem “descarte de vacinas de microrganismos vivos ou atenuados”, devendo, portanto,


“ser submetidos a processos de tratamento em equipamento que promova redução de carga microbiana compatível com nível III de inativação microbiana e devem ser encaminhados para aterro sanitário licenciado ou local devidamente licenciado para disposição final de resíduos dos serviços de saúde” (CONAMA, 2005).


Isso significa que todo o seu corpo de plástico - não apenas as agulhas - é necessariamente descartado sem possibilidade de reuso. Ao substituir o vidro na produção de seringas, o plástico viabilizou a sua fabricação em maior escala e de maneira mais acessível, dentro de um contexto em que passou a ser amplamente utilizado na medicina de maneira geral, por ser visto como um material conveniente, eficaz e de baixo custo (Freinkel, 2011). Para além das seringas, para se ter uma ideia, foi nessa época que o canudo de plástico, hoje grande vilão da economia circular, foi pela primeira vez utilizado, justamente dentro de um hospital, por ter sido considerado útil para pacientes com mobilidade reduzida (Kaiser, 2021).


De acordo com a Organização Mundial da Saúde (2015), de todo o material descartado em atividades de saúde, 85% não está contaminado.

Por outro lado, não há políticas de logística reversa suficientes para viabilizar de maneira segura a reciclagem, o reuso ou mesmo o descarte correto do material utilizado em todas as estimadas 16 milhões de injeções administradas ao redor do mundo com diversas finalidades. Esse quadro pode ser creditado a diversos fatores, tais como ausência de conscientização sobre potenciais consequências, inexistência ou ineficiência de sistemas de coleta e manejo, escassez de recursos humanos e financeiros e a baixa prioridade dada à questão (WHO, UNICEF, 2015).


A Organização Mundial da Saúde aponta, ainda, que de todas as possíveis soluções, o comprometimento dos governos é essencial para a concretização de mudanças estruturais, as quais podem incluir a criação e implementação de um sistema integrado de coleta e o manejo apropriado de resíduos sólidos hospitalares que seja seguro aos profissionais envolvidos e o menos poluente possível.


No Brasil, o problema foi endereçado pela ANVISA (BRASIL, 2006), que observa que, à época, das 149.000 toneladas de resíduos geradas diariamente, menos de 2% era composta por resíduos produzidos por serviços de saúde e, destes, apenas de 10 a 25% necessitavam de tratamento específico.

Embora o último dado consolidado da gestão de resíduos sólidos pelos municípios seja de 2019 (BRASIL), é de se imaginar que a quantidade de material produzida pelos serviços de saúde seja ainda maior durante uma crise sanitária, em especial aquela constituída pelos materiais plásticos utilizados na logística.


Tendo em vista esse contexto, o manual da ANVISA (BRASIL, 2006, p. 7) chama a atenção para a relevância da “implantação de processos de segregação dos diferentes tipos de resíduos em sua fonte e no momento de sua geração” - isto é, coleta seletiva para destinação adequada, de modo a reduzir a quantidade de resíduos descartada desnecessariamente com o lixo especial.


A mensagem, portanto, não é nova e nem decorrente exclusivamente da situação de crise sanitária em que vivemos: também os hospitais e os serviços de saúde devem cuidar dos resíduos que geram - não apenas por seu caráter contaminante, mas também porque os tempos demandam uma gestão racional que leve em consideração as possibilidades de reuso e de reciclagem, bem como a possibilidade de redução da geração de resíduos.


Quanto à nós, cidadãos, cabe-nos o papel de conhecer mais sobre os resíduos sólidos gerados pelo ser humano, inclusive os hospitalares, e a proporção com que são gerados com o passar do tempo, o que aumenta o risco de danos ambientais, de saúde pública, sociais e econômicos. Falar de resíduo, seja ele uma “simples” seringa ou até um carro de alegoria carnavalesco, parece representar a priori um tema um tanto quanto corriqueiro e, em decorrência disto, muito conhecido. Mas o fato é que todos os dias de nossas vidas, há algo novo para se aprender sobre resíduos sólidos.


À medida que nos inteiramos sobre o tema, aumenta a nossa corresponsabilidade em partilhá-lo com outras pessoas, sempre à nossa maneira, ao nosso olhar. Contudo, é preciso buscar a todo momento ponderar os fatos e suas consequências. É então que entra o papel da Educação Ambiental, mas sobre isso deixamos mais uma interrogação a você, caro leitor! E que venham os próximos capítulos!



REFERÊNCIAS:


BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Regional. Secretaria Nacional de Saneamento (SNS). Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento: Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos – 2019. Brasília: SNS/MDR, 2020. 244 p. Disponível em: <http://www.snis.gov.br/downloads/diagnosticos/rs/2019/Diagnostico_RS2019.pdf>. Acesso em 26/05/2021.


BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Manual de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde / Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. – Brasília : Ministério da Saúde, 2006. 182 p. Disponível em: <http://anvisa.gov.br/servicosaude/manuais/manual_gerenciamento_residuos.pdf>. Acesso em 26/05/2021.



FREINKEL, S. A Brief History of Plastic's Conquest of the World: Cheap plastic has unleashed a flood of consumer goods. Revista Scientific American, publicação online, s/n, 2011.


LIMA, E.J.F.; ALMEIDA, A.M.; KFOURI, R.A. Vacinas para COVID-19 - o estado da arte. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, v.21, p.S21-S27, 2021.


SOUZA, A.S.R. et al. Aspectos gerais da pandemia de COVID-19. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, v.21, p. S29-S45, 2021.


KAISER, J. The Solving Plastic Issue: In Depth: What Comes After This Plastic-Filled Pandemic? Revista Yes Magazine, publicação online, s/n, 2021. Disponível em: <https://www.yesmagazine.org/issue/solving-plastic/2021/05/10/pandemic-plastic-what-comes-after>. Acesso em 25/05/2021.


WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO), UNICEF. Water, sanitation and hygiene in health care facilities: status in low- and middle-income countries. World Health Organization, Geneva, 2015. Disponível em: <https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/health-care-waste>. Acesso em 25/05/2021.




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