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Uma reflexão sobre Economia Circular e novas transformações...

Recentemente este tema tem sido citado em vários ambientes. A tal da economia circular é uma proposta em resposta à Economia Linear. Infelizmente, o sistema econômico atual considera uma economia linear, que basicamente extrai a matéria prima do meio ambiente, realiza a transformação do material em um produto, transporta até os consumidores que, depois de terminado o tempo de uso, realizam o descarte do material. Esse material pode ser reciclado, ou, como a maior parte, acaba parando em aterros sanitários e lixões. A geração de resíduos sólidos tem sido um dos maiores problemas ambientais da atualidade. Algumas consequências são: poluição dos recursos hídricos, solo, ar, transmissão de doenças, contaminação de lençóis freáticos e emissões de Gases do Efeito Estufa. Os lixões representam a pior forma de descarte dos resíduos, uma vez que não detém infraestrutura básica de contenção ambiental, gerando grandes contaminações. Eles estão presentes em 50,8% dos municípios no Brasil (IBGE, 2011b). Já os aterros são locais preparados e equipados, no entanto também contribuem com o efeito estufa. Em ambos (lixões e aterros), há a liberação de gás metano proveniente da degradação do resíduo em meio sem oxigênio, e deve ser queimado por medidas de segurança. Quando queimado, este gás se transforma em CO2, que também potencializa o efeito estufa e, consequentemente, aquecimento global. Na cidade de São Paulo, por exemplo, as emissões de GEE por resíduos representam 15,6%, perdendo apenas para o setor de energia (81,9%). Em escala nacional, essa emissão representa 4,4% (SEEG, 2019). Além disso, os resíduos não coletados comprometem o sistema de drenagem das cidades, propiciando enchentes, principalmente nas zonas mais vulneráveis. Com o aumento da temperatura no estado de São Paulo, ondas de calor e ciclo de chuvas alterados, isso só potencializa as futuras catástrofes (PBMC, 2016).


É por isso que a economia circular é uma ótima forma de reduzir a produção de resíduos, além de economizar na extração de recursos naturais. Como Engenheira Ambiental, sempre pensei muito em como tratar este resíduo, ou buscar a melhor forma de reciclagem para ele. O que me chamou muito atenção foi a seguinte frase:


“RESÍDUO É UM ERRO DE DESIGN”


Nunca havia parado pra pensar nisso. Acabamos focando no problema e em como destiná-lo que às vezes não nos comunicamos com quem projetou aquele produto, para solucionar o problema na raiz.


De acordo com o Ellen Macarthur Foundation, a Economia Circular se mostra como um modelo cuja finalidade é redefinir os conceitos de desenvolvimento econômico linear e propõe dissociar a atividade econômica do consumo de recursos finitos, e eliminar resíduos do sistema. Com isso, há três princípios a serem seguidos:

  • Eliminar resíduos e poluição desde o princípio;

  • Manter produtos e materiais em uso

  • Regenerar sistemas naturais.

O YCL proporcionou uma mudança de visão e paradigma com relação à Economia Circular. Na aula da Dani Delfini, pude acessar alguns desses conceitos e migrar para uma maior profundidade no assunto na jornada do Ideia Sustentável, onde tive insights maravilhosos relacionados a este tema, baseado na escola do Cradle to Cradle “berço-ao-berço” - metodologia C2C - que desconsidera o conceito de “túmulo” ou destino final e pensa numa solução efetiva, não mais eficiente de redução de danos. Baseado na releitura da metodologia C2C, o Ideia Sustentável (2021) traz cinco transformações para transição de uma economia linear para a circular, que são: 1º Foco na Qualidade. Não somente reduzir a qualidade do produto ou durabilidade. Sabe aquela garrafinha de água toda molinha com viés ecológico? Então, a experiência dela não é das melhores e traz uma mensagem: Coisas “ecológicas” são frágeis. Sendo que o conceito de economia circular é de aumento da durabilidade dos produtos para que seu uso seja muito maior do que o que acontece hoje. 2º Olhar materiais como nutrientes. Precisamos olhar os materiais como banco de nutrientes, que podem se movimentar dentro da biosfera ou tecnosfera. A biosfera trata de materiais biológicos, por exemplo. Já a tecnosfera representa o meio tecnológico, com materiais produzidos a partir de uma transformação. Ou seja, há o ciclo técnico e o biológico. Há também materiais híbridos, que misturam ciclo técnico e biológico - esses materiais, por exemplo, são mais difíceis de serem desassociados.


Um ótimo exemplo dado em aula é da iniciativa da empresa Holandesa Fairphone - que produz celular de longa duração, fácil reparo, design modulado (como Lego), reuso e reciclagem de materiais e cadeia de suprimento justa.


Essa ideia pode ser replicada também no setor de serviços- como na distribuição de alimentos em recipientes mais resistentes, que retornam ao distribuidor (ex.: empresa Algramo). Além disso, pode ser aplicado também em empresas do ciclo biológico, como em criação de embalagens compostáveis.


3º Além de perguntar de onde o produto vem, devemos perguntar: Para onde vai? Esta pergunta é básica, mas fundamental. Há diversos produtos no mercado que se mostram sustentáveis, mas para onde irá aquele produto depois? Como reciclá-lo, como reutilizá-lo?

Podemos tomar como exemplo uma camiseta de PET reciclada + algodão. Aparentemente é uma proposta interessante de prolongar a vida da PET. Mas e depois?Será que a reciclagem é viável? Alguns termos interessantes são: upcycling (super ciclagem) e downcycling (sub-ciclagem). No upcycling, há a valorização do material e no downcycling, há uma piora da qualidade do produto assim que transformado. Uma mensagem muito importante que a Lea Gejer e a Carla Tennenbaum mencionaram é que: não é porque algo é feito com resíduos que é ecológico. Portanto aí vai o alerta com o greenwashing das empresas.


4º Pensar na saúde dos materiais


Devemos considerar o uso de materiais naturais, sem adição de produtos tóxicos/metais pesados/cancerígenos, por exemplo. Esses tóxicos contaminam o meio ambiente, além de oferecer risco aos consumidores. Sem contar todos os impactos na cadeia de extração de materiais assim, bem como no efeito de sua disposição final.


5º Conservar a diversidade


E finalmente, a diversidade de materiais deve ser celebrada e valorizada porque fortalece e regenera. E isso não é somente para materiais, isso conta para a natureza, sociedade e culturas. Devemos exercitar o olhar sistêmico e amplo sobre nossos projetos, buscando espelho na natureza. Hoje em dia há tantas oportunidades oferecidas pela natureza e por conhecimentos originários, como serviços ecossistêmicos, jardins filtrantes que realizam a purificação de efluentes, fertilizantes naturais, entre outros.


Além disso, vou acrescentar mais passo essencial, que é o de uso de energias renováveis, também mencionado pelos autores da metodologia C2C.


Desta forma, concluo que o curso YCL foi fundamental na minha trajetória como profissional do clima, além de apresentar conceitos de forma prática. A Economia Circular para mim agora possui um novo significado graças a aula da Dani Delfini e os ensinamentos provenientes do Instituto Ideia Circular, que traz uma base enorme para o conceito no Brasil.


Vejo que estes estudos estão se estendendo no país e precisamos aplicá-los o quanto antes. A divulgação desses conceitos dentro de esferas diversas (academia, governo, comunidades) se faz necessária! Devemos divulgar esses conceitos para mais designers, engenheiros, arquitetos, pessoas e dentro de empresas! Os idealizadores de produtos precisam conhecer esta ferramenta transformadora, que só traz benefícios ao meio ambiente e a economia.


REFERÊNCIAS:


Fairphone, 2021. Acesso: https://www.fairphone.com/en/impact/long-lasting-design/ Ideia Circular | Aula Aberta, 2021. Acesso: https://www.youtube.com/watch?v=YonEieuqQJU Ideia Circular, 2018. Os 3 princípios do design circular Cradle to Cradle. Léa Gejer e Carla Tennenbaum. Acesso: https://convertkit.s3.amazonaws.com/landing_pages/incentives/000/244/770/original/Ideia_C ircular_3principios.pdf?1596821813


PBMC, 2016: Mudanças Climáticas e Cidades. Relatório Especial do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas [Ribeiro, S.K., Santos, A.S. (Eds.)]. PBMC, COPPE– UFRJ. Rio de Janeiro, Brasil. 116p. ISBN: 978-85-285-0344-9


Por que o Lixo é um Erro de Design na Oficina para Arquitetos. Acesso: https://www.ideiacircular.com/entenda-por-que-o-lixo-e-erro-de-design-na-oficina-para-arqui tetos/


Resíduos e Economia Circular | Aula, 2021 - Dani Delfini


Sobre a autora: Daniela Defavori Casatti

Graduada em Engenheira Ambiental e Sanitarista pela PUC-CAMPINAS, com experiência de 4 anos em EHS e Auditorias Ambientais, como foco na norma ISO 14.001:2015, no ramo Automotivo, sendo formada como Auditor Interno nas normas 14/18/50.001. Também Técnica em Geodésia e Cartografia pelo COTIL, tendo atuado em estágios no ramo público e privado com levantamentos de campo e elaboração de mapas. Atualmente estou no último semestre do Mestrado em Tecnologias Ambientais na University of Debrecen- tendo como auxílio a bolsa Stipendium Hungaricum do governo Húngaro. O tema da minha tese é sobre a aplicação da Análise de Ciclo de Vida em processo de fundição de ferro.


Daniela Defavori participou da 5ª edição do Curso YCL no primeiro semestre de 2021 como bolsista. As referências e opiniões expressas no artigo são de responsabilidade da autora.

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